Nos primeiros anos dos imigrantes no Brasil, o único amparo que as famílias tinham vinha da religião, com isto, era compreensível que logo após construir a própria casa, a próxima providencia seria a construção de uma Igreja. Elas foram surgindo pela vontade e trabalho espontâneo e gratuito de grupos de famílias que se juntavam para construir o seu local de oração. Estas igrejas se chamavam “capellas” e como a presença do padre era rara, geralmente um colono que soubesse ler assumia a reza dos terços aos finais de semana e o ensinamento do catecismo. Estas capelas em geral eram dedicadas ao um santo de devoção das pessoas da localidade, possivelmente tendo alguma relação com a comuna de origem na Itália.
Segundo conta o Padre Antonio Galioto em sua obra: Nova Pádua e sua História, no inicio da colonização a presença do Padre era disputada, e os moradores do Serro Grande, que eram numerosos na época, liderados por Matteo Bizzotto, queriam a presença do Padre nesta comunidade e para isto construíram uma igreja antes mesmo da sede Nova Pádua, e que seria a atual igreja (reformada pela primeira vez em 1924). Contudo, não conseguiram que se tornasse a sede da paróquia, e os moradores da sede de Nova Pádua, contentes por ter junto a si o Padre, foram de noite, no alto do morro do Travessão Bonito e tocaram as trombas, o que muito teria assustado os moradores do Serro Grande, que pensavam ter chegado o fim do mundo.
Tal fato constituiu na época, uma grande ofensa aos moradores da localidade, daí o nome dado ao episódio e que por longos anos também passou a identificar a própria comunidade: “Gran torto” cuja expressão não pode ser traduzida literalmente sem perder o sentido, mas que equivale a “uma grande (gran) desfeita ou ofensa, coisa torta (torto), daí a expressão: Grantorto, que por coincidência é também o nome de um município de Padova – Itália.
No mesmo sentido é a história contada por Gema Menegat Tonet em seu livro “Nova Pádua – História das Escolas: Viagem no Tempo”, contudo acrescenta ela que eram cornetas feitas de chifres, o que teria originado a expressão “I gà sonà i corni” (eles soaram os chifres) – numa referencia aos berrantes peitos de chifres de bovinos).
Resta desvendar quando esta história ocorreu. Valemos-nos então, do belíssimo relato de Rugero Sonda em PCC fl. 769, que relata:
“...Após muito tempo veio a Nova Pádua o Pe. Giuseppe Dalmazzi. Veio de modo provisório. Era Bastante idoso. Fazia o melhor que podia para servir os imigrantes, mas ficou pouco tempo. Naquela época surgiu uma contenda entre os moradores de Nova Pádua e os do Travessão Cerro Grande. Estes queriam que a sede da paróquia fosse o Cerro Grande. A divergência durou pouco e os paduanos levaram a melhor...”
Rugero conta ainda que tudo isto teria ocorrido antes que o Padre Nozadini, em razão do atentado sofrido, viesse se refugiar em Nova Pádua, na casa da família Mantovani, onde a dona da casa era uma Forcolin. Vittorio Mantovani se casou com Mathilde Forcolin em 17.6.1899¹ na igreja de Caxias e, não parece provável que Mathilde estivesse na casa de Vittório sem estar casada, já que o padre teria se refugiado lá em 1897. È possível então, que Rugero tenha feito esta associação para distinguir a família.
1 - Povoadores da Colônia Caxias, fl. 726 e 638.
Neste sentido, segundo relata o próprio Pe. Nozadini em sua carta de despedida aos Caxienses, escrita em 07 de fevereiro de 1899, o mesmo agradeceu à família Mantovani e aos paduanos que o acolheram por quatro meses após o atentado que sofreu em 07 de fevereiro de 1897, praticado pelos Carbonários, grupo hostil à igreja:
Sabe-se, portanto que foi antes de 1897, mas quando? Voltemos então ao Pe. Galioto, para ver em que ano o Pe. Dalmazzi veio para Nova Pádua. Na folha 27, da obra aqui referida, Angelo Arcaro buscou o Padre em 27.12.1892, e ele ficou em Nova Pádua até 02.05.1894, logo, o episódio da história do Grantorno teria ocorrido antes de 1897 com certeza, e provavelmente surgido antes ou concomitantemente com a vinda do Pe. Dalmazzi que chegou em 1892.
Nos documentos da paróquia, no entanto, encontra-se uma escritura pública de doação onde o então proprietário do Lote Rural n.1 do Serro Largo, Marco Rocco Bordignon, doa à Paróquia de Santo Antonio de Pádua, uma fração de terras de seu lote de 80mx80m:
Esta doação foi levada a termo em 07 de setembro de 1894, para que fosse então construída uma igreja em honra a Santo Antonio de Padova² com pedra, cal e tijolos. Portanto, até 1894 ainda não havia certeza de onde seria feita a sede, ou pelo menos o Serro Grande ainda estava lutando para isto.
2 - Há a informação de que a igreja de Nova Pádua (a primeira igreja da sede)
ficou pronta em 1888 (Galioto, fl. 20/21), mas ainda não se sabe ao certo a
quem foi dedicada no ato da construção.
Logo, razoável ponderar que a história do “Grantorto” deve ter ocorrido por volta do ano de 1894 ou logo após, e o episódio surgiu porque o Serro Grande queria ser a sede da Paróquia, o que restou confirmado documentalmente pela escritura de doação referida, o que lhe valeu inclusive o apelido de Grantorto.
Também questão a ser desvendada, é a resposta do porque, afinal, a localidade não se tornou, como reivindicava, a sede da paróquia. Muitas podem ser as explicações, desde o fato contado o próprio padre Galioto, que no momento em que as terras da XVI Légua foram traçadas, havia a previsão de uma sede, possivelmente para o estabelecimento de um centro comercial com ferreiros, sapateiros, comerciantes e outros profissionais necessários nas longínquas colônias, e tal teria ocorrido perto da atual sede do município, embora não no mesmo lugar (um pouco mais abaixo, perto dos paredões do Rio Oitenta), contudo, estes profissionais foram se instalando segundo suas próprias posses e conveniências mais próximos a atual sede, e assim a mesma foi surgindo naturalmente. Exemplo disto é, por exemplo, a primeira casa de comércio de Nova Pádua, de propriedade do Sr. Vitorio Mantovani, que depois de passar um tempo como residência da família Bedin, voltou a sua origem de casa comercial, acolhendo hoje o açougue Bunai. Ainda se percebe na casa as belas janelas com o formato do inicio do século XX.
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